Mistida, de Falcão Nhaga, seleccionado na La Cinef do Festival de Cannes [17/05/2022]

Mistida, curta metragem realizada pelo jovem cineasta Falcão Nhaga de vinte e um anos e produzida pela Escola Superior de Teatro e Cinema, foi seleccionada pela La Cinef, a secção competitiva do Festival de Cannes dedicada a filmes de escola do mundo inteiro e novas vozes do cinema independente.

É a segunda vez em duas décadas que Portugal é representado na La Cinef (anteriormente Cinéfondation) e a segunda vez na história da competição que uma produção inteiramente portuguesa é seleccionada, depois das selecções de António Ferreira com a curta luso-alemã Respirar (Debaixo d'Água); do filme A Viagem de Simão Cayatte realizado no âmbito dos seus estudos nos EUA e da seleção de Corte de Afonso e Bernardo Rapazote, em 2020.

NOTA DE INTENÇÕES:
Aspiro desesperadamente contar esta história especial, uma linda especificidade na geografia do meu ser: nascido nesta terra, bem assim sou descendente de pais imigrantes. Sou sabido dos seus dias à míngua e no limiar da pobreza, enquanto a indignidade da sua circunstância, pelos anos cadentes da sua vida, significara o desapossar de esperança, de regressar à bem-querida terra, avistar um futuro à luz da decência, de nos ver à roda de amor e família. Se amonta o peso da imigração, da indigência, do sacrifício, da saudade e de ser negro. Mas o amor em Mistida não é emudecido pelo pesar. Pela hereditariedade da dor, são os filhos que acodem os pais, levando consigo a mesma origem desvantajosa, mas também os sonhos resplandecentes do passado que ainda cintilam neles - enquanto este passado tem sido pesaroso até então, enfim, o futuro pode-se tornar mais leve.
Partilhei esta história, o meu coração e o meu espírito com os meus colegas da Escola Superior de Teatro e Cinema. Acredito que o carinho e paixão que dedicaram ao filme foi o que tornou-lhe completo - seja pela naturalidade das conversas entre mãe e filho, que ganharam forma na montagem; pela cinematografia que nos orienta pelos bairros com tamanha gracilidade; ou pelo ambiente sonoro das crianças e do jogo da bola, que acompanham estes momentos com um leve tingir nostálgico, tão necessário quanto todo o resto. É indescritível que da nossa inicial inexperiência e vontade que, por fim, chegamos à concretização do nosso último projecto escolar.



SINOPSE:

Uma mãe imigrante (Bia Gomes), aflita das costas, liga ao filho (Welket Bungué) para que ele a ajude a carregar os sacos de compras para casa. Durante o percurso, os dois conversam sobre o futuro através do passado, numa revinda às suas amarguras e alegrias.

Ficção
2022, Portugal, 30’

Argumento: Pedro Cabral, Falcão Nhaga
Fotografia: Carolina Abreu
Som: Diogo Albarran
Montagem: Marta Lopes
​Produção: Mariana Morais / Escola Superior de Teatro e Cinema (ESTC)​
Elenco: Bia Gomes, Welket Bungué

[17/05/2022]